* Você se sente confortável com a umidade de 10%.
* Você conhece os ministros e deputados como:
" O pai daquele cara da faculdade".
* Ao dirigir você fica meio paranóico com os limites de velocidade.
* Você DE FATO pára o carro e respeita a faixa de pedestre.
* Você acha normal um PM em cada cruzamento.
* Você tem "medo" de jogar lixo pela janela do carro.
* Ouve dizer "é bem pertinho" e pensa tranquilamente em 50 km.
(Não é bem assim...)
* Se sua memória não falha vc entende o que é "Carranquinha".
* Você sabe que estão falando quando perguntam "conhece alguém da dois"?
(...eu conheço várias !!! Grandes Amigos !!!)
* Todo fim-de-semana você tem um churrasco prá ir com os Amigos.
* Você se sente à vontade com endereços em coordenadas cartesianas,
(e descobre que isso é MUITO mais prático do que tentar descobrir onde fica a "rua tal"...).
* Sabe que se for a um endereço nas 300, 100, e 200 irá a um apartamento bom,
nas 400 terá que subir escadas,
nas 700 vai ter de procurar vagas nas calçadas das casas e que
se for ao Sudoeste corre o risco de que a quadra ainda não esteja asfaltada!
(...Hoje já não existem ruas sem asfalto... tá TUDO asfaltado, talvez encontre 'alguma' rua sem asfalto lá em Águas Claras, maior canteiro de obras com fins urbanísticos do mundo!)
* Quando começam as chuvas você escuta "esse ano vai chover como nunca",
* Quando param a chuvas você escuta "esse ano a seca vai ser braba".
* Você chama os amigos de seus pais de "tio" e "tia".
* Você vê alguém fazer barbeiragem no trânsito e diz "Só pode ser Goiano".
* Acha que de mar o nosso céu não tem nada, e na primeira oportunidade dá uma escapada para praia.
(...mas não se cansa de TODO DIA ver o ESPETÁCULO do Pôr-do-Sol brasiliense !!!)
* Odeia quando chegam os parentes querendo conhecer a Esplanada.
(Brasília é MUUUUUIIITOOOOO MAIS que a Esplanada !!!!)
* Você reclama para o amigo: "-Não tem nada para fazer nessa cidade"...
(Isso era há uns 30 anos atrás... hj TODO DIA tem BALADA numa das suas 793 Boates, num dos seus 3.572 Restaurantes, 7 Shopping Centers, 152 salas de cinema, 69 Teatros, 102 clubes... - FONTE: EMBRATUR)
* ...Mas fica indignado quando alguém de fora reclama que em Brasília não tem nada para fazer.
(Bom, o comentário tá aí em cima...)
* Você chama o "Nativos" (hoje "Natiruts"...) de "Repetitivos" ou "Enjoativos".
* Você já foi convidado para passar um final de semana na Chapada, literalmente pra ficar "chapado".
(Lugar mais que lindo ! Uma das três Chapadas Brasileiras, todas lindas !!!)
* Você sabe qual é a profecia de Dom Bosco.
("Leite e Mel" é POUCO, Bosquinho...)
* Você reluta reclama e acaba indo comer pizza na Dom Bosco, no Primo Piatto ou até um pastel na Viçosa.
(A rede "Primo Piatto" fechou... chato... mas apareceram outras muito boas... Já a "dupla-com-mate", da Dom Bosco, é imitada até no exterior ! e a Viçosa já tem filiais em todo Centro-Oeste e Sudeste!)
* Sabe perfeitamente o que significa quando alguém diz "Eu moro no Lago".
* Quando vai a outra cidade fica indignado e não entende porque construíram ruas tão estreitas com tanto cruzamento.
(#FATO #FATO #FATO #FATO...)
Vê crianças gostarem tanto de descer para brincarem "debaixo do bloco".
(Leia o post anterior, é uma maravilha !!! Prédios -"blocos"- SOBRE Pilotis -"pilastras"- que deixam o ar correr livre e tornam o solo da cidade propriedade de TODOS !!!)
* Pelo menos cinco pessoas que você conhece fazem Direito.
* Fica puto quando te perguntam se já viu o presidente.
("-Sim, sim... topo com ele todo dia quando vou comprar pão de manhã... tsc, tsc, tsc... Brasília NÃO É SÓ POLÍTICA, seu ZÉ MANÉ !!!!")
* Você vê o dia começar friozinho, acha perfeitamente normal que às onze esteja fazendo um puta calor, à tarde toda esteja muito muito quente e seco, à noite frio novamente ou até mesmo desabando um temporal, isto além de a chuva ter iniciado e parado cinco vezes durante o dia ou a tarde.
(Isso sem falar de estar chovendo num lado da rua e no outro um sol ESTUPENDO !!!! Sério !!!)
* Você não tem a menor noção do que seja uma esquina de paralelepípedos.
(Prá isso é só ir em uma das centenas cidades históricas do Entorno... lugares lindos que contrastam com a modernidade de Brasília!)
* Você acha que casa com piscina é a coisa mais normal do mundo.
(Cidade com o maior número de piscinas per-capita do MUNDO !!! Fonte: Worldtur Enterprise Agency - UK)
* Ainda chama o "Parque da Cidade" de "Piton"... e já até brincou -mesmo- no Foguete do Piton.
(...aaaaah, o Foguete... aaaahhhh, como era bom ser criança em Brasília!)
* Até hoje chama o Hipermercado Pão-de-Açúcar de "Jumbo".
* Você sabe que "Ir ao Gilberto" não quer dizer visitar alguém.
(Huashuashuashuas... booooaaaa !!!! )
* Você sabe que a "Tesourinha" não corta nada e que o "Balão" não tem ar.
(Aliás, como diz o grande Oswaldo Montenegro: -"Brasília é o único lugar em que, quando você quer virar à esquerda, vira prá direita e passa por baixo !!!")
* Você classifica "montanha" ou "morro" como substantivo abstrato.
(Bom, pessoalmente eu até que gostava de sair um pouco do planalto para explorar umas vias nas cidades do Entorno... escalada e rappel alí pelas vizinhanças é o que há !!!)
* Você sabe definir termos com "mala", "dodó", e "Ted" com exatidão.
(Huashuashuahsuas... Ted... "Terror das Empregadinhas"... a galerinha era cruel...)
* Você sabe quem é (ou O QUÊ é) o Venâncio.
* Se vai a The Beer é playboy, para 109 é largado, e para o pagode é dodó ou mala.
* Sabe que Samambaia não é uma planta !
* Você diz "Vou ao Shopping" sabendo que isso só pode significar ir ao Parkshopping, senão diria "Vou ao Pátio".
* Sabe que uma boate da moda não dura mais que três meses.
* Você vai ao Pier aos domingos, assiste um filme e depois lancha no Marieta Café.
* Você sabe que pardal não é uma ave.
* Paga trinta reais para entrar numa festa de galpão no SIA e não reclama.
* Já passou um carnaval ou feriado em Caldas Novas.
*Adora dizer para quem não mora em Brasília ou não gosta: "-Já dizia Renato Russo: Nesse país melhor lugar não há".
(...e Djavan ... e Oswaldo Montenegro ... e Alceu Valença ... e Caetano Veloso .... e Capital Inicial ... e Paralamas do Sucesso ... e Cassia Éller .... e..... e.... e........)
* Morre de rir, ou de raiva, nas vésperas de feriados, quando te dizem: "-O último que sair (da cidade) apaga a luz".
* Sempre que viaja é perguntado de qual gangue vc pertence, e se vc já queimou algum índio.
* Vai a churrascos onde o traje básico das meninas é jeans e bolsa da Victor hugo. Biquíni, nem pensar...
(...depende... de vários fatores....)
* Conhece no mínimo 10 pessoas que nunca foram ao Rio de Janeiro e tem mais sotaque do que os caras de lá.
(Huashuahushuhashuashuhasuhuas... #FATO! Talvez pq tenham muitos descendentes de carioca morando em Bsb !)
* Fica puto quando pessoas de fora te chamam de Candango e você tem que explicar que candangos foram os caras que construíram a cidade...
...e que você (com todo orgulho e com toda a consideração a estes pioneiros)
CIDADE-AMOR !!!
CIDADE-VERDE !!!
CIDADE-EDUCAÇÃO !!!
CIDADE-PARAÍSO !!!
TE AMO ♥ BSB ♥ !!!
(Meu infeliz exilio está ACABANDOOOOOO !!!!
Já estou voltando para ti !!!)
Lembro-me MUITO BEM disso...
de CADA momento histórico relatado pelo Dinho.
Pena (...talvez não...) que eu era um dos MILHARES de "figurantes" que faziam o cenário para esses "protagonistas"...
Meu caminho foi para "outro lado"...
eu gostava do Carnaval dos clubes
e do mal-afamado (na época) "PACOTÃO";
curtia a Bossa-Nova em cada um dos barzinhos mais "cults" da cidade na época,
tocando, na noite ...e fora dela, Vinícius, Chico e Milton no meu violãozinho adolescente.
Daí...
fiz muitas Amizades, (eu não gostava de panelinhas),
entrei prá Igreja,
Encontros,
fiz MUITAS outras Amizades,
virei ator,
Arte,
mais Amizades,
me formei no Dulcina,
CASEI,
desvirei ator...
E hoje, minhas inumeras Amizades (com "A" maiúsculo)
me seguem (mesmo eu estando longe, no exílio) e eu as sigo...
Feliz...
Tornaram-se meus IRMÃOS...
parte da minha história;
mesmo não tendo me tornado um "astro" do rock nacional...
Foi por isso que eu disse lá no início:
"...Pena ? Com certeza, NÃO !" ...
Também curti MUITO as "quebradas" (mesmo sendo outras) da minha AMADA e IDOLATRADA Brasília dos 70 e 80's...
...e 90's, também , pq não ?
O A.E., o início do bom ROCK NACIONAL,
foi apenas MAIS UMA das MUITAS coisas boas que curti
na Bsb de minha juventude...
O tempo do meu exílio está acabando...
logo estarei na minha Brasília de novo,
com mais história para viver ...
e contar...
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17/04/2010 - 07h03
(Especial para o UOL)
Brasília faz 50 anos agora em Abril. O Renato Russo faria também 50 em Março. As duas datas são importantíssimas pra mim, e estão interligadas.
Eu morei em Brasília em duas épocas distintas da minha vida: a primeira, dos dez aos treze, e a segunda, dos dezesseis aos vinte. Pode parecer pouco, mas tudo o que eu sou hoje deriva, de uma forma ou de outra, desses anos.
O primeiro período, foi minha transição da infância à adolescência, uma época um tanto confusa pra todos nós. Quando se é criança em Brasília se tem a impressão de estar no paraíso. Passávamos o dia na rua jogando bola e andando de skate. Eu ia a pé pra escola e tinha uma sensação de absoluta tranquilidade e segurança. Medo e violência ainda não faziam parte do meu vocabulário. Na minha inocência, a cidade me parecia um lugar perfeito, sem defeitos, no meio do cerrado e longe de qualquer problema.
Aos dez, eu conheci o Dado Villalobos, que se tornou meu melhor amigo. Aliás, continua sendo. Aos doze, conheço o Herbert Vianna, o Bi Ribeiro e seu irmão, o Pedro. Até hoje, todos estão entre meus melhores amigos. Através deles, eu comecei a ouvir rock. No começo eu ouvia o que eles ouviam, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, entre outros.
Compro meu primeiro disco: Jimi Hendrix tocando Cream. Lembro da correria às lojas quando o Led Zeppelin lançou o Presence. Lembro de quando o Herbert ganhou sua primeira guitarra importada. Juntou um monte de gente embaixo do bloco porque nunca tínhamos visto uma Gibson.
Aos poucos fui me afastando do gosto deles, e, embora ainda tivéssemos muita afinidade musical, fui me interessando por bandas que, pra eles, eram abomináveis, como AC/DC, Kiss e Queen. Lentamente rock ia se tornando a coisa mais importante da minha vida. Eu achava que quanto mais bandas eu conhecesse, mais bacana eu seria. Eu fazia uma competição com meu irmão pra ver quem conseguia completar o alfabeto inteiro com nomes de bandas. E por incrível que pareça conseguíamos.
Brasília, mesmo sendo a capital do país, ainda era uma cidade do interior, provinciana e isolada. O fato de termos conseguido informações musicais assim em Brasília , muito antes da internet, nos anos setenta, em plena ditadura, foi um feito surpreendente, que só foi alcançado por nos interessarmos por música com um furor religioso.
Aos treze eu passei alguns anos fora do país com meus pais e voltei aos dezesseis. Reencontro meus amigos, e os encho de histórias, dos shows que eu tinha visto, só pra saborear sua inveja.
Logo depois da minha volta, a caminho de casa, absolutamente por acaso, eu dou de cara com uma banda tocando numa calçada em frente a uma lanchonete conhecida por envenenar seus clientes.
Os caras pareciam ter descido de uma nave espacial. Cabelos coloridos, roupas rasgadas, coleiras e alfinetes por todo lado. Eu não conseguia entender uma só palavra do que o sujeito cantava; todos os instrumento e a voz estavam ligados em um só amplificador. Mas não importava, eles transpiravam energia, atitude e carisma. A banda era o Aborto Elétrico com o Renato Russo (naquela época ainda Manfredini) nos vocais, e o Fê e o Flavio Lemos na bateria e baixo respectivamente. A partir desse momento, minha vida nunca mais foi a mesma.
Virou uma questão central nas nossas vidas reencontrarmos aquelas pessoas. Percebemos que a cidade inteira, inclusive nosso bloco, estava pichado com um AE. Começamos a prestar atenção em cartazes colados pelos muros até descobrirmos onde seria o próximo show. Finalmente, após uma exaustiva investigação, descobrimos que a apresentação seria num lugar chamado Cafofo. E lá fomos nós, eu, o Dado e o Pedro...
O Cafofo merecia o nome que tinha, era uma lugar de última. Na verdade era um boteco e o show era no porão. Descemos e nos deparamos com umas doze pessoas, todas vestidas a caráter, uma banda tocando, o Aborto Elétrico assistindo, mas o melhor de tudo: garotas. E ainda por cima roqueiras, aliás punks. O porão era um inferno, mas estávamos no lugar certo na hora certa.
É preciso uma pequena explicação: àquela altura Brasília já tava bastante tediosa pra nós adolescentes com hormônios saindo pelas orelhas. Mas, embora nosso interesse e entusiasmo pelos punks fosse óbvio, ninguém nos dirigia a palavra. Ficou claro que aquilo era um clube exclusivo e, para entrar, sabe lá Deus o teríamos que fazer. No entanto, nossa persistência foi intensa, fomos a todos os shows, não importa onde eram, até que lá pelas tantas, não dava mais pra fingir que não estávamos lá. As primeiras pessoas que tiveram piedade o suficiente pra se digerirem a nós foram as meninas, traição suprema, que deve ter enfurecido o povo das bandas. Eu digo bandas porque eram duas; além do Aborto, havia também o Blitz 64. Por meio das meninas, somos convidados depois do show a ir pra uma "quebrada". Não tínhamos a mais remota idéia do que se tratava, mas como a sorte não passa sempre na sua frente, dissemos que sim, e fingimos que sabíamos do que eles estavam falando.
Quebradas nada mais eram do que lugares isolados, ermos, longe de tudo e de todos, a beira do lago, onde paravam o único carro que tinham e colocavam o som no máximo, acendiam os faróis e baseados; bebia-se Sangue de Boi no gargalo e pronto, a festinha tava armada.
Duas coisas fundamentais aconteceram naquela noite. Primeiro, para minha surpresa o Renato se dirigiu a mim. Ele vira e me pergunta, como se fosse a coisa mais normal do mundo, se eu gostava de ler. Respondi que sim ao que se seguiu com uma conversa sobre Kurt Vonnegut, Salinger, Aldous Huxley e até Camus e Dostoievski. Tive que espremer meu cérebro pra acompanhar a verborragia daquele cara, simultaneamente culto e tímido. A segunda coisa fundamental da noite, foi meu primeiro contato mais intenso e íntimo com o punk rock.
Pode parecer pouco, mas as duas coisas somadas, Renato e o punk, fizeram minha vida tomar um rumo inesperado. À noite, eu não disse nada aos meus pais. Eu preferia que eles pensassem que eu estava planejando algo potencialmente destrutivo e que jamais soubessem que eu tinha passado a noite conversando sobre literatura. Entrei em casa mudo com cara de conspirador, não cumprimentei ninguém, e me tranquei no meu quarto. Dormi profundamente, sonhando com o próximo encontro que prometia uma galáxia de novas possibilidades para minha tediosa existência.
Pouco depois, eu comecei a namorar a irmã do Fê e do Flavio, uma menina linda de morrer que, como eu, ainda ouvia as bandas antigas. Mesmo tendo sido apresentado ao punk, eu achava aquilo tudo muito tosco, e me recusava a ser convertido. Eles eram divertidos e tudo, mas, musicalmente pra mim, aquilo era um desastre. Namorando a Helena, além da sorte grande de namorar a menina mais bonita da turma, ganhei o privilégio de poder frequentar os ensaios do Aborto que eram na casa do Fê.
A partir de então, finalmente eu entendi o que o Renato estava dizendo. E, quando isso aconteceu, parecia que o céu tinha aberto, e um raio de luz iluminado meu rosto, e Deus dito... bom, não sei exatamente o quê, mas algo importante. Finalmente eu ouvi rock brasileiro bem escrito. E, mesmo sem ainda estar convencido do valor do punk, instantaneamente virei fã incondicional do Renato, o que continua inalterado até hoje.
Meu fascínio por sua música me levou a me aproximar dele, e finalmente, um dia, a frequentar sua casa. A Helena, minha namorada, já era amiga dele e, por meio dela, tive acesso ao pequeno circulo de amigos mais próximos.
A casa dele era uma casa comum de classe média, uma mãe e uma irmã simpatissíssimas e o pai que parecia não achar tanta graça naquela gente frrequantando seu lar. O quarto do Renato, objeto de nossa peregrinação, era um autêntico santuário. Rock, cinema e livros. Pilhas e mais pilhas de discos e revistas. Passávamos a tarde inteira ouvindo som, lendo sobre o que as bandas aprontavam, e vendo fotos dos palcos, músicos, suas roupas e suas festas. La Hacienda, CBGB's e 100 Club, todos lugares que pareciam cenários, algo quase irreal, bom demais pra ser verdade. Com fotos dos Ramones festejando, do Sid Vicious fora de si e do Ian Curtis em depressão.
O Renato era um leitor ávido e tinha fascínio especial por biografias, principalmente de rock e cinema. Conhecia cada detalhe da vida de atores e músicos. De Bob Dylan ao Clark Gable, ele sabia de tudo: gosto musical, preferência sexual, prato predileto, roupa favorita, enfim tudo. E sabia de pequenas anedotas, histórias de amor, aventuras extraconjugais, brigas em bares e prisões. Frequentávamos juntos mostras de cinema; víamos a nouvelle vague, os expressionistas alemães, e os clássicos italianos. Acho que nunca mais vivi um momento tão intelectualizado quanto esse, aos dezessete anos.
E tudo isso sem falar em política. Embora o regime militar ainda estivesse oficialmente de pé, a impressão era que ele estava em estado terminal e não seria mais uma ameaça para nós. Então, aterrorizávamos nossos pais saindo para a rua com camisetas com a foice e o martelo (mesmo sem levar Marx muito a sério) só pra nos divertirmos à custa da certeza deles que seríamos presos. Naquele momento líamos Bakunin e, por mais inacreditável que pareça, levávamos a anarquia a sério.
As letras do Renato eram ácidas, corrosivas e de uma provocação deliberada. Ele era chamado regularmente ao ministério da Justiça pra prestar esclarecimentos, coisa que ele nunca fez, e no entanto nunca houve uma reação do regime. Suponho que naquele momento o Figueiredo já estava mais preocupado com seus cavalos. De qualquer modo, nós nos sentíamos profundamente subversivos só de ir aos shows. Aquilo parecia uma afronta aos militares, um ato de coragem que um dia seria lembrado nos livros de história.
A adolescência vem com uma dose de arrogância e ingenuidade. Naquela época, o Renato devia ter uns vinte anos e já tinha escrito "Que Pais é Esse", "Geração Coca Cola", "Química", "Tédio", "Veraneio Vascaína" e "Fátima" - as últimas duas com o Flavio Lemos. Aos poucos, outras pessoas foram percebendo que não se tratava só de um músico talentoso. A turma começou a aumentar, até que em determinado momento não sabíamos mais o nome de todos. Havia uma hierarquia que era estabelecida por ordem de chegada, portanto, o Renato e o Fê, que tinham fundado o Aborto dando início a tudo, tinham o status de líderes. Outros poucos reivindicam importância equivalente, por inveja ou por rivalidade. Mas pra mim, tudo isso era irrelevante. O Renato, aos meus olhos, pairava acima de todos como um guru indiano levitando.
Acho que essa historinha está ficando meio longa, então vou dar uma resumida. O mote do punk era "faça você mesmo", o que era levado ao pé da letra pelos recém chegados e então bandas pipocaram pra todo lado. Todas com nomes engraçadíssimos, como Dado e o Reino Animal, Os Vigaristas de Istambul e o Anti-Ontem. Se você sacudisse uma árvore, caia um guitarrista.
A medida que mais bandas surgiam, eu tenho a impressão que o Renato começava a achar aquilo tudo um lugar comum. Acho que ele queria ser algo a parte. E principalmente ele queria se fazer ouvir e entender, como se ele soubesse que um dia teria a atenção de uma geração inteira. Então, para minha infelicidade numa bela tarde, sem mais nem menos, houve um dia de luto na turma: o Renato sai do Aborto. Ninguém sabia que aquilo era só o fim do começo e que muito mais viria pela frente. Mas isso tudo é outra história.
A foto abaixo é da reabertura da ponte de South Fork depois da inundação de novembro de 1940.
Um homem que parece usar óculos escuros modernosos ainda se veste de maneira despojada para os padrões bem atuais e segura uma câmera fotográfica portátil.
Seria um viajante do tempo capturado em 1940!
Será ???
"Mundo moderno, marco malévolo,
mesclando mentiras, modificando maneiras,
mascarando maracutaias,
majestoso manicômio.
Meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias,
massacres, miscigenação,
morticínio – maior maldade mundial.
Madrugada, matuto magro, macrocéfalo, mastiga média morna.
Monta matungo malhado munindo machado, martelo,
mochila murcha, margeia mata maior.
Manhãzinha, move moinho, moendo macaxeira... mandioca.
Meio-dia mata marreco, manjar melhorzinho.
Meia-noite, mima mulherzinha mimosa, Maria morena,
momento maravilha, motivação mútua,
mas monocórdia mesmice.
Muitos migram, macilentos, maltrapilhos.
Morarão modestamente,
malocas metropolitanas, mocambos miseráveis.
Menos moral, menos mantimentos, mais menosprezo.
Metade morre.
Mundo maligno,
misturando mendigos maltratados, menores metralhados,
militares mandões, meretrizes, marafonas,
mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente,
modestas moças maculadas, mercenárias mulheres marcadas.
Mundo medíocre.
Milionários montam mansões magníficas:
melhor mármore, mobília mirabolante, máxima megalomania, mordomo,
Mercedes, motorista, mãos…
Magnatas manobrando milhões,
mas maioria morre minguando.
Moradia meia-água...
menos: marquise.
Mundo maluco, máquina mortífera.
Mundo moderno, melhore.
Melhore mais, melhore muito, melhore mesmo.
Merecemos.
Maldito mundo moderno, mundinho merda."
Chico Anysio. (Humorista, escritor, ator e pintor)
Parabéns pela genialidade, Chico;
vindo do interior do nordeste, pobre,
discriminado como, até hoje, seus iguais são...
porém UM GÊNIO da Arte...
um dos poucos que podemos, realmente,
chamar de BRASILEIRO.
#ChicoAnysioDay
(@techjoker)
#ChuckNorrisFacts #TheJokerFacts
http://j.mp/9JRPqG